Radio Fusion

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Teixeirinha - 25 anos de sua morte

            Teixeirinha -  O legado de Vitor Mateus Teixeira

A exibição de filmes na Vila da Quinta começou na década dos anos 20,  na Sociedade e Instrução (SIRQ) que naquele período estava arrendada para o Grupo dos 15?... sendo que o prédio do cinema ficou pronto em 1930 aqui  no distrito.  Os famosos bailes de carnaval e as apresentações do  Jazz Band Grupo dos 15?... com a fineza e o encanto do que havia de melhor da música clássica entre nós,  seus saraus e apresentações semanais, tendo como mediador a sensibilidade e a paixão musical de Severino Gonçalves Terra, proprietário da Estância Sotéia,  no Taim.
Passou o tempo e para nós, crianças e adolescentes no final dos anos 70, por vezes,   esquecemos dos primeiros passos do cinema e a parafernália instrumental do tempo distante, da incipiente energia elétrica, dos estúdios móveis em viagens interioranas nos vagões de trem, nos caminhos percorridos no lombo de uma mula ou dos apresentadores em Kombi nos telões pelo interior nos armazéns mais visitados pelos moradores locais. Era, embora tardiamente, a dinâmica da modernização, como um fluido ortocromático, poesia e sensibilidade que chegava aos arrabaldes da cidade com a exibição de filmes. Para termos uma ideia, no 3º distrito, Povo Novo, chegaram a funcionar dois cinemas e a última apresentação de filmes na Vila da Quinta foi em 1982.
Nestes 25 anos da morte de Teixeirinha, comecei a me lembrar dos filmes que um dia assistimos, recapitulando sim um pouco da arte cinematográfica para entender melhor, de como uma projeção restitui ao expectador os seus espantos ou neste caso a memória. Era de certa forma, uma linguagem metafórica, de intimidade rural que em muito nos ligava  aos seus filmes. Creio que não fizemos parte do circuito de lançamento, mas vibramos com o palhaço Pipiolo e  nos dramas e amarguras quando o cinema lotado exibia “Coração de luto” (1960), “Motorista sem limite” (1969) ou “Tropeiro Velho” (1979). Foram 12 filmes, dezenas de empregos e que por vezes raras ousadias técnicas, misturadas ao simplismo do sempre galã com sua eterna amada Meri Terezinha.
Teixeirinha cantou e compôs em torno de 1200 músicas tendo gravado 600. Falou de amor, de personalidades, cidades e suas lembranças, definido no excelente trabalho do historiador rio grandino Francisco Alcides Gougo Junior, em sua dissertação de Mestrado, “Canta meu povo: uma interpretação histórica sobre a produção musical de Teixeirinha (1959-1985)”  pela UFRGS em março deste ano, algo como ‘composições ufanistas’. Veja em 
( http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/24844/000745908.pdf?sequence=1)
Cantava para o homem simples, falava daquilo que aprendera na vida e de seus galanteios gaudérios. Seus versos em quadras, às vezes simplistas, relembrava o campo, a vida livre num momento de intensa migração da população rural para a cidade e, nas ondas da potente Farroupilha, Teixeirinha “amanhecia cantando” com seus ouvintes desde o Acre, Mato Grosso e Paraná.
Hoje regravam suas músicas ao delírio dos mais novos, gurizada de pilchas que nem o conheceram, e por vezes ”Tropeiro Velho” de 1972, ou “Querência Amada” de 1975 surgem ao coro de milhares de vozes da multimídia atual, como um refrão que já beira os 40 anos. Vitor Teixeira compôs e filmou nos anos de exceção politica, mas nem se avalia o grau de distanciamento ou a aproximação com os militares no poder. Mas não faz mal, não é crime e o velho Teixeira tem cacife para o perdão, assim como tem, ainda entre nós, velhos adoradores do  regime ditatorial  que hoje pintam de democráticos ferrenhos e estão faceiros na defesa intransigente da cúpula do poder municipal.

Entre nós, ficou a lembrança dos tempos do DAER onde trabalhou nos anos 50  antes da fama, quando participou  na abertura  da estrada rumo a Santa Vitória do Palmar. Fez amigos por aqui, brindou com  os trabalhadores  do trecho em dias de chuva os ensaios de seu violão. Muitas pessoas entre a Quinta e o Taim o lembram desse período.   Já famoso apresentou-se por duas vezes em circos que estavam na Vila e outra vez foi a Ilha do Leonidio com seu gaiteiro da época, Ademar Silva. Passou o tempo e é bom que a Academia esteja estudando Teixeirinha, descortinando a vida e a obra, releituras atualizadas no tempo e a importância do conjunto de seus trabalhos e quem sabe a obra do nosso Chico ajude a entender melhor um pouco da nossa história.
           

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