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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Padres Josefinos e os alunos - Vila da Quinta- 1920

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Os Padres Josefinos e a Educação

Escola Agrícola Municipal da Quinta

Em 1914, a administração do município, através do Intendente Municipal, Dr. Nascimento, e o Bispo Diocesano de Pelotas, viabilizaram com a Congregação  São José de Murialdo, a fundação de uma escola agrícola em Rio Grande e o local apropriado foi a Vila da Quinta. Neste sentido, o objetivo era de auxiliar na educação das crianças pobres e, ao mesmo tempo investir no desenvolvimento da agricultura na região, marcada especificamente pelo grande latifúndio ou pequenas chácaras com uma concentração predominantemente de portugueses que se estabeleciam entre o Bosque, Carreiros, Quinta, Ilha Leonidio e Quitéria. Vale ressaltar que a igreja do Rio Grande pertencia a Diocese de Pelotas.
Seria uma proposta inovadora na área educacional e, provavelmente um projeto pioneiro pedagógico e religioso sob o controle dos padres Josefinos  com atuação no Brasil. A Ordem era de Turim,  na Itália, e os religiosos foram transferidos da Líbia (África) do Instituto Agrícola Industrial para a Vila da Quinta. No dia 5 de janeiro de 1915, chegaram os dois primeiros padres, começando assim a missão no Rio Grande do Sul, sendo eles o padre Oreste Trombem e Gioseppe Longo. Em fevereiro chegaria o padre Umberto Pagliane, superior encarregado da Escola, e o irmão Hermenegildo Guerrini.
No dia 21 de abril de 1915 foi inaugurada a Escola Agrícola, na sede do extinto Posto Zootécnico, em uma área de 14 hectares, sendo hoje assim compreendida: à frente seria onde está o Grêmio Esportivo Nacional e o Posto de Saúde e , ao fundo a Usina da asfalto.
Cultivavam mudas de arvores frutíferas, silvestres e ornamentais, quer para o consumo, embelezamento interno ou a venda de excedentes, as hortaliças, vagens ou legumes em geral, eram cultivados para as aulas práticas dos alunos ou experimentos e manejo técnico das culturas já então estabelecidas.
Começava as aulas com 10 alunos internados e, paralelamente, era ministrada a aula municipal para os alunos do sexo masculino, na qual os menores da Vila (externos) apreendiam os elementos fundamentais da língua portuguesa, aritimétrica, e noções variadas de agricultura, perfazendo um total de 50 alunos.
Como escola católica, o ensino tinha o propósito de educação cívica e religiosa, alicerçada na moral cristã, tendo como meta a formação do caráter do estudante. O programa abrangia seis anos de estudos, divididos em dois cursos; o preparatório e o de capatazes com 3 anos cada um. Nos primeiros três anos, era teoria, português, história do Brasil, caligrafia, desenho a mão, noções de física e química. Já no curso de capatazes, ampliava em muito os conceitos até então existentes da educação no meio rural. Dividia-se em módulos como a Teoria, que seriam as matérias curriculares, ensino Profissional, como conhecimentos de semeadura, colheita, podas, enxertos e experiências químicas/orgânicas, além de controle contábil de receitas e despesas e, o último módulo seria a Zootecnia e Industria, aprendendo sobre raças de animais, coberturas, tratamento profilático, imunização, vacinas e soros. Na indústria agrícola, os alunos “capatazes” tinham aula de enotologia, preparo dos vinhos, atafonas, lacticínios, álcool e cidras e os princípios da economia rural.
A educação passava por um refino estrutural jamais imaginado na região, abriam-se novos paradigmas, reorganiza-se, de certa forma, propostas e experiências de um mundo distante de nós, burilava o bruto presente e propunham no longo horizonte, novas perspectivas de um uma nova dimensão na arte da educação. Mais do que isto, as transformações no campo religioso, propõe um novo rumo evangelizador da igreja, onde a Paróquia da Quinta, criada em 1913, abrangia o Taim, Cassino, Povo Novo e Quinta. Não eram os termos que eram novos, mas a conceitualização de propostas centradas na fé e na ação do homem em relação ao seu meio. Criaram, o Apostolado da Oração e Associação da Doutrina Cristã (catecismo) e um núcleo da Boa Imprensa, que propagava leituras e as boas  publicações católicas editadas no país, sem contar um Jornal editado pelos padres locais, chamado “Mensageiro Cathólico”. Inovaram com as experiências advindas de outros locais, como “Fabrica da Matriz”, que cuidava dos bens da igreja e o “Primor da Caridade”, uma espécie de Pronto socorro físico, moral e religioso aos pobres e doentes  em suas residências.
O modelo e a experiência com os Josefinos durou somente 7 anos. Em 1922 rompe-se o contrato, expurga-se os religiosos e nunca mais tivemos práticas de tal porte na arte de educar em nossa região. Poucas vezes a Igreja teve um dinamismo real e concreto nesta difícil arte de pregar o   evangelho no nosso meio, mas ficaram os sonhos e projetos de uma educação inovadora entre nós. E nestes 95 anos da chegada dos padres Josefinos, a Banda Marcelino das Neves e seus instrumentos amarelos não mais se apresentam e nem mais o Grupo de Teatro Fiasco, com seus espetáculos dramáticos vão subir ao palco ou encantar os passageiros na Estação Férrea aos sábados na chegado ou partida dos trens.
Do antigo prédio de dois andares e um conglomerado de galpões e oficinas, resta somente uma parede de material esperando para tombar.

Bases de pesquisa:
Pagliane, Humberto. Escola Agrícola Municipal da Quinta. Relatório 1915/1920. Oficinas do Rio Grande.
 Maier, Paulo Souza. Visão Histórica da Realidade da Comunidade de Nossa Senhora da Penha, Vila da Quinta, UFPEL, mimiografado, s/d.
  Mendonça. Cledenir Vergara. Escolas Josefinos; Projetos, sonhos... que ficaram no passado. In Jornal Eco do Interior, 16/08/2005, ano 1, nº2, pg. 6

terça-feira, 5 de outubro de 2010

SIRQ – Uma instituição centenária

Sociedade Instrução e Recreio  Quinta
Parte 02 – 1950/2010

       Surgia o inicio da década de 1950 e com ela o movimento de futuras lideranças jovens no intuito de reerguerem a SIRQ, mas somente  em 26 de junho de 1952, em Assembleia Geral, definiu-se o papel da entidade para os novos tempos. A primeira campanha seria para reerguer uma nova sede social, já que a antiga estava em ruínas e foi demolida. A nova obra oferecia uma estrutura sólida e pensada sobre todos os aspectos da construção arquitetônica: água encanada, rede de esgotos e luz elétrica. A sede foi decorada e mobiliada  ao longo dos anos com móveis, louças, cristais, cortinas, mesas e cadeiras, estas vindas do Paraná.
Uma grande festa em 16 de outubro de 1954 inaugurava o atual prédio da Sociedade, abrindo o caminho para os novos tempos. Politicamente tudo se mantinha calmo, somente brigas e desafetos pessoais alteravam sua trajetória de conturbações administrativas. Obras de embelezamento, mesas e cadeiras de Gramado, a colocação do parquet, o forro em colmeia, caracterizando uma das melhores acústicas nos salões existentes, na cidade os jornais estampavam fotos das rainhas e noticias da ”Quinta” pelas mãos do escritor Décio Neves.
Pairavam recomendações em ofícios com um bem caríssimo como a eletrola e ainda havia a incerteza da utilidade de um aparelho chamado televisão e suas benesses para a coletividade social. Quando o antigo prédio de madeira do Lilia Neves incendiou, abrigou as aulas da escola até o prédio em construção ficar pronto,e teve um curso supletivo mantido com verbas do Ministério da Educação desde 1962.
Mantinha inabalavelmente, por tradição, suas exigências de conduta e respeito em seu interior, com exageros personalizados de uma sociedade em transição. Ainda são memoráveis os bailes entre 1960 e meados de 1970 que elegeram rainhas, princesas e garotas da primavera. A elite rural aos poucos se ausentou, pois já não tinha mais o prestigio e o poder de outrora. Passaram a vigorar os novos modelos sociais, nitidamente urbanos, no comando da Sociedade e mesmo com as modificações sociais em andamento, continuou sendo referência de uma classe detentora de prestígio social e poder, mostrando-se lenta para as transformações necessárias e visão de futuro, pouco contribuindo para a desmistificação de preconceitos raciais e sociais afinados ao longo de sua história. Sua influência politica continuava intocável, a Ala Feminina nos eventos sociais e carismáticos, principalmente entre 1968 e 1971, repartindo também seu espaço quando fundado o CTG Raphael Pinto Bandeira em 1968.
Com a chegada dos anos 80, mudanças radicais na estrutura social estavam acontecendo e a Sociedade arredia a elas. Pagar taxa de água e energia elétrica significava pesadelo aos tesoureiros. As crises de outros tempos batiam à porta. Recomeçavam as interrupções no funcionamento da Sociedade, parcerias simplistas, carnaval e pouca ousadia desmereceram o brilho da SIRQ.
Ficou centenária nos anos 90, adaptou-se aos novos conceitos da sociedade, virou um clube de interesses particularizados, sem o brilho de outros tempos. Aprendeu a ser mais democrática no uso de seu interior com as portas abertas à comunidade local, mas perdeu o encanto de sua história. Aos poucos desapareceram  suas referências do passado para recriar um novo modelo de ação, empobrecida pelo simplismo, mas sonhos vivos na imagem dos mais novos. O presente segue sem definição conceitual com outra geração reconstruindo um novo tempo.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

SIRQ – Uma instituição centenária


Sociedade Instrução e Recreio  Quinta
Parte 01- 1903/1950

A arte de ser centenária não deve ser expressa apenas como manifestação e valorização estética. Tal arte é antes de tudo uma atitude do homem em relação ao seu passado. A Sociedade e Recreio viu passar e embalou os sonhos dos homens que ajudaram a criar o 5º distrito em 1909, desmembrando-o do Povo Novo. Viveu os horrores de duas grandes guerras mundiais, sepultou sócios vitimados pela gripe espanhola de 1918 e foi testemunha de defesa das nossas revoluções internas, criando mitos e heróis de uma terra dominada pelos coronéis, mas sempre fora delicada e suave com a beleza de rainhas, princesas e misses que um dia desfilaram em sua sede. Quebrou o protocolo quando deixou os nãos sócios assistirem os jogos da Copa do Mundo de 1970 quando a Quinta só tinha um aparelho de televisão. Foi administrada pela prepotência dos velhos caudilhos políticos, mas também teve a doçura de um dia ser guiada somente por mulheres. Firmou-se assim, ao canto e desencanto de seu poder. Puniu e expurgou quem ousara transgredir seus códigos, mas agraciou e bajulou benfeitores conforme seus interesses.

Fundada em 8 de janeiro de 1903, teve suas atividades iniciais na casa do Capitão Abdon Salies e como o espaço da grande sala estava começando a ficar pequeno, Abdon dou o terreno para a construção da sede onde se encontra hoje. O primeiro salão ficou pronto em 1905, construída de madeira e as telhas eram de zinco. O estilo era colonial, amplo, as janelas em arco, e duas janelas da frente eram maiores e os vidros eram coloridos na parte superior, despontando como um dos mais belos prédios do nascente século 20 na pequena povoação à margem da linha férrea.
Até 1917, os bailes eram concorridíssimos e o espaço nobre era disputado pela elite rural. Quando ocorriam bailes de gala, havia, em horário especial, trem fretado de Rio Grande, exclusivamente para o transporte de senhoras e senhores que frequentavam a Sociedade.
A primeira crise surgiu 15 anos após sua fundação: em campo minado de atitudes prepotentes entre sócios e a diretoria, vieram à tona as primeiras deserções. Criava-se assim um salão independente, mas com o poder de barganha e arranjos políticos viria à pacificação. Concomitante a isso a gripe espanhola de 1918, que por aqui deixa suas vitimas e a 1ª Guerra Mundial, deixaram a SIRQ em compasso de espera.
Administrar a SIRQ e neutralizar diante de seus conflitos internos ao longo da sua história, nunca foi tarefa fácil, independente do sucesso e realização pessoal na vida privada. As crises vieram de longe, desde 1922 quando foram interrompidas as atividades da instituição e, repassou, em forma de arrendamento a sua sede para o Grupo dos 15”!!, período em que começava a exibição de filmes em seu interior. Com o protestos e reações de antigos sócios, se reorganizava a Sociedade  em 1926 com a formação de uma nova diretoria. Renovada e ambiciosas, oferece um curso primário e aulas noturnas para os adultos com verbas próprias da entidade. Neste período surge a caneta tinteiro, folheada a ouro, oferecida pelo professor  José Antonio Carneiro. Recebeu doações de livros e obras para sua biblioteca e intercedeu ao Poder Público Municipal para a criação de uma praça em frente à Estação Ferroviária, na época, terreno da antiga Escola Agrícola. A nossa primeira praça situava-se onde hoje fica o Posto de Saúde.
A Revolução de 1930 interromperia novamente as atividades sociais. A revolução que levaria Getulio Vargas ao poder, mexeria com os nossos caudilhos. Foi organizado um corpo de voluntários para combater em Rio Grande as tropas federais que resistiam ao golpe e no interior da Vila, havia homens armados para o combate. Homens como Marcelino Pereira das Neves e Augusto Nicola, formariam suas milícias para impor a ordem na cidade. A SIRQ ficaria fechada até terminarem as pressões políticas e outros atores em cena na politicagem local, novas picuinhas viriam pela frente, e persistiriam os mesmo traumas da inconsistência partidária.
Em 1934 surgiram dois blocos carnavalescos: “As Floristas” e “As Ciganas”. Nosso carnaval ganhava o brilho  e a rivalidade entre os dois blocos e com eles a luxúria, beleza, competitividade e misturados a tudo isto, uma batalha em suas entranhas: a invocação politica. As Floristas nasceram na SIRQ e as Ciganas, renegadas que ousaram criar um espaço só para elas no já existente cinema, que oferecia bailes no carnaval. Cores, gritos, segredos na época de Momo, mas em cada espaço, uma pitada da politica reinante: na Sirq, o conservadorismo do PSD e no Cine !5, o populismo do PTB.
Sob a alegação da 2ª Guerra Mundial, corroborada pelo desinteresse coletivo local e pelas ações pertinentes a politica nacional com a ditadura getulista, a Sociedade permaneceu fechada de 1939 a 1948, tentando se organizar em 1949. Os resultados foram efêmeros. Desleixo e falhas administrativas deixaram a Sociedade fechada por mais de 13 anos. O brilho do enorme salão, já com seus 30 anos, virou entulho. O assoalho apresentava buracos, parte das madeiras das paredes estava despregada e havia goteiras por todos os cantos. Era a exposição do triste abandono.

Cledenir Vergara Mendonça – Esp. em História.
Fonte: Entrevistas e técnicas em História Oral (Sebastião Zeferino
Amaral, Plácido Barroco, Marcolino Brancão, José Gonzales)
Arquivo José Ferreira Junior, Carlos Salies Camargo e Décio
Neves
Livros de Atas, ano de 1928, 1952, 1985