Escola Agrícola Municipal da Quinta
Em 1914, a administração do município, através do Intendente Municipal, Dr. Nascimento, e o Bispo Diocesano de Pelotas, viabilizaram com a Congregação São José de Murialdo, a fundação de uma escola agrícola em Rio Grande e o local apropriado foi a Vila da Quinta. Neste sentido, o objetivo era de auxiliar na educação das crianças pobres e, ao mesmo tempo investir no desenvolvimento da agricultura na região, marcada especificamente pelo grande latifúndio ou pequenas chácaras com uma concentração predominantemente de portugueses que se estabeleciam entre o Bosque, Carreiros, Quinta, Ilha Leonidio e Quitéria. Vale ressaltar que a igreja do Rio Grande pertencia a Diocese de Pelotas.
Seria uma proposta inovadora na área educacional e, provavelmente um projeto pioneiro pedagógico e religioso sob o controle dos padres Josefinos com atuação no Brasil. A Ordem era de Turim, na Itália, e os religiosos foram transferidos da Líbia (África) do Instituto Agrícola Industrial para a Vila da Quinta. No dia 5 de janeiro de 1915, chegaram os dois primeiros padres, começando assim a missão no Rio Grande do Sul, sendo eles o padre Oreste Trombem e Gioseppe Longo. Em fevereiro chegaria o padre Umberto Pagliane, superior encarregado da Escola, e o irmão Hermenegildo Guerrini.
No dia 21 de abril de 1915 foi inaugurada a Escola Agrícola, na sede do extinto Posto Zootécnico, em uma área de 14 hectares, sendo hoje assim compreendida: à frente seria onde está o Grêmio Esportivo Nacional e o Posto de Saúde e , ao fundo a Usina da asfalto.
Cultivavam mudas de arvores frutíferas, silvestres e ornamentais, quer para o consumo, embelezamento interno ou a venda de excedentes, as hortaliças, vagens ou legumes em geral, eram cultivados para as aulas práticas dos alunos ou experimentos e manejo técnico das culturas já então estabelecidas.
Começava as aulas com 10 alunos internados e, paralelamente, era ministrada a aula municipal para os alunos do sexo masculino, na qual os menores da Vila (externos) apreendiam os elementos fundamentais da língua portuguesa, aritimétrica, e noções variadas de agricultura, perfazendo um total de 50 alunos.
Como escola católica, o ensino tinha o propósito de educação cívica e religiosa, alicerçada na moral cristã, tendo como meta a formação do caráter do estudante. O programa abrangia seis anos de estudos, divididos em dois cursos; o preparatório e o de capatazes com 3 anos cada um. Nos primeiros três anos, era teoria, português, história do Brasil, caligrafia, desenho a mão, noções de física e química. Já no curso de capatazes, ampliava em muito os conceitos até então existentes da educação no meio rural. Dividia-se em módulos como a Teoria, que seriam as matérias curriculares, ensino Profissional, como conhecimentos de semeadura, colheita, podas, enxertos e experiências químicas/orgânicas, além de controle contábil de receitas e despesas e, o último módulo seria a Zootecnia e Industria, aprendendo sobre raças de animais, coberturas, tratamento profilático, imunização, vacinas e soros. Na indústria agrícola, os alunos “capatazes” tinham aula de enotologia, preparo dos vinhos, atafonas, lacticínios, álcool e cidras e os princípios da economia rural.
A educação passava por um refino estrutural jamais imaginado na região, abriam-se novos paradigmas, reorganiza-se, de certa forma, propostas e experiências de um mundo distante de nós, burilava o bruto presente e propunham no longo horizonte, novas perspectivas de um uma nova dimensão na arte da educação. Mais do que isto, as transformações no campo religioso, propõe um novo rumo evangelizador da igreja, onde a Paróquia da Quinta, criada em 1913, abrangia o Taim, Cassino, Povo Novo e Quinta. Não eram os termos que eram novos, mas a conceitualização de propostas centradas na fé e na ação do homem em relação ao seu meio. Criaram, o Apostolado da Oração e Associação da Doutrina Cristã (catecismo) e um núcleo da Boa Imprensa, que propagava leituras e as boas publicações católicas editadas no país, sem contar um Jornal editado pelos padres locais, chamado “Mensageiro Cathólico”. Inovaram com as experiências advindas de outros locais, como “Fabrica da Matriz”, que cuidava dos bens da igreja e o “Primor da Caridade”, uma espécie de Pronto socorro físico, moral e religioso aos pobres e doentes em suas residências.
O modelo e a experiência com os Josefinos durou somente 7 anos. Em 1922 rompe-se o contrato, expurga-se os religiosos e nunca mais tivemos práticas de tal porte na arte de educar em nossa região. Poucas vezes a Igreja teve um dinamismo real e concreto nesta difícil arte de pregar o evangelho no nosso meio, mas ficaram os sonhos e projetos de uma educação inovadora entre nós. E nestes 95 anos da chegada dos padres Josefinos, a Banda Marcelino das Neves e seus instrumentos amarelos não mais se apresentam e nem mais o Grupo de Teatro Fiasco, com seus espetáculos dramáticos vão subir ao palco ou encantar os passageiros na Estação Férrea aos sábados na chegado ou partida dos trens.
Do antigo prédio de dois andares e um conglomerado de galpões e oficinas, resta somente uma parede de material esperando para tombar.
Bases de pesquisa:
Pagliane, Humberto. Escola Agrícola Municipal da Quinta. Relatório 1915/1920. Oficinas do Rio Grande.
Maier, Paulo Souza. Visão Histórica da Realidade da Comunidade de Nossa Senhora da Penha, Vila da Quinta, UFPEL, mimiografado, s/d.
Mendonça. Cledenir Vergara. Escolas Josefinos; Projetos, sonhos... que ficaram no passado. In Jornal Eco do Interior, 16/08/2005, ano 1, nº2, pg. 6
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