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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

SIRQ – Uma instituição centenária


Sociedade Instrução e Recreio  Quinta
Parte 01- 1903/1950

A arte de ser centenária não deve ser expressa apenas como manifestação e valorização estética. Tal arte é antes de tudo uma atitude do homem em relação ao seu passado. A Sociedade e Recreio viu passar e embalou os sonhos dos homens que ajudaram a criar o 5º distrito em 1909, desmembrando-o do Povo Novo. Viveu os horrores de duas grandes guerras mundiais, sepultou sócios vitimados pela gripe espanhola de 1918 e foi testemunha de defesa das nossas revoluções internas, criando mitos e heróis de uma terra dominada pelos coronéis, mas sempre fora delicada e suave com a beleza de rainhas, princesas e misses que um dia desfilaram em sua sede. Quebrou o protocolo quando deixou os nãos sócios assistirem os jogos da Copa do Mundo de 1970 quando a Quinta só tinha um aparelho de televisão. Foi administrada pela prepotência dos velhos caudilhos políticos, mas também teve a doçura de um dia ser guiada somente por mulheres. Firmou-se assim, ao canto e desencanto de seu poder. Puniu e expurgou quem ousara transgredir seus códigos, mas agraciou e bajulou benfeitores conforme seus interesses.

Fundada em 8 de janeiro de 1903, teve suas atividades iniciais na casa do Capitão Abdon Salies e como o espaço da grande sala estava começando a ficar pequeno, Abdon dou o terreno para a construção da sede onde se encontra hoje. O primeiro salão ficou pronto em 1905, construída de madeira e as telhas eram de zinco. O estilo era colonial, amplo, as janelas em arco, e duas janelas da frente eram maiores e os vidros eram coloridos na parte superior, despontando como um dos mais belos prédios do nascente século 20 na pequena povoação à margem da linha férrea.
Até 1917, os bailes eram concorridíssimos e o espaço nobre era disputado pela elite rural. Quando ocorriam bailes de gala, havia, em horário especial, trem fretado de Rio Grande, exclusivamente para o transporte de senhoras e senhores que frequentavam a Sociedade.
A primeira crise surgiu 15 anos após sua fundação: em campo minado de atitudes prepotentes entre sócios e a diretoria, vieram à tona as primeiras deserções. Criava-se assim um salão independente, mas com o poder de barganha e arranjos políticos viria à pacificação. Concomitante a isso a gripe espanhola de 1918, que por aqui deixa suas vitimas e a 1ª Guerra Mundial, deixaram a SIRQ em compasso de espera.
Administrar a SIRQ e neutralizar diante de seus conflitos internos ao longo da sua história, nunca foi tarefa fácil, independente do sucesso e realização pessoal na vida privada. As crises vieram de longe, desde 1922 quando foram interrompidas as atividades da instituição e, repassou, em forma de arrendamento a sua sede para o Grupo dos 15”!!, período em que começava a exibição de filmes em seu interior. Com o protestos e reações de antigos sócios, se reorganizava a Sociedade  em 1926 com a formação de uma nova diretoria. Renovada e ambiciosas, oferece um curso primário e aulas noturnas para os adultos com verbas próprias da entidade. Neste período surge a caneta tinteiro, folheada a ouro, oferecida pelo professor  José Antonio Carneiro. Recebeu doações de livros e obras para sua biblioteca e intercedeu ao Poder Público Municipal para a criação de uma praça em frente à Estação Ferroviária, na época, terreno da antiga Escola Agrícola. A nossa primeira praça situava-se onde hoje fica o Posto de Saúde.
A Revolução de 1930 interromperia novamente as atividades sociais. A revolução que levaria Getulio Vargas ao poder, mexeria com os nossos caudilhos. Foi organizado um corpo de voluntários para combater em Rio Grande as tropas federais que resistiam ao golpe e no interior da Vila, havia homens armados para o combate. Homens como Marcelino Pereira das Neves e Augusto Nicola, formariam suas milícias para impor a ordem na cidade. A SIRQ ficaria fechada até terminarem as pressões políticas e outros atores em cena na politicagem local, novas picuinhas viriam pela frente, e persistiriam os mesmo traumas da inconsistência partidária.
Em 1934 surgiram dois blocos carnavalescos: “As Floristas” e “As Ciganas”. Nosso carnaval ganhava o brilho  e a rivalidade entre os dois blocos e com eles a luxúria, beleza, competitividade e misturados a tudo isto, uma batalha em suas entranhas: a invocação politica. As Floristas nasceram na SIRQ e as Ciganas, renegadas que ousaram criar um espaço só para elas no já existente cinema, que oferecia bailes no carnaval. Cores, gritos, segredos na época de Momo, mas em cada espaço, uma pitada da politica reinante: na Sirq, o conservadorismo do PSD e no Cine !5, o populismo do PTB.
Sob a alegação da 2ª Guerra Mundial, corroborada pelo desinteresse coletivo local e pelas ações pertinentes a politica nacional com a ditadura getulista, a Sociedade permaneceu fechada de 1939 a 1948, tentando se organizar em 1949. Os resultados foram efêmeros. Desleixo e falhas administrativas deixaram a Sociedade fechada por mais de 13 anos. O brilho do enorme salão, já com seus 30 anos, virou entulho. O assoalho apresentava buracos, parte das madeiras das paredes estava despregada e havia goteiras por todos os cantos. Era a exposição do triste abandono.

Cledenir Vergara Mendonça – Esp. em História.
Fonte: Entrevistas e técnicas em História Oral (Sebastião Zeferino
Amaral, Plácido Barroco, Marcolino Brancão, José Gonzales)
Arquivo José Ferreira Junior, Carlos Salies Camargo e Décio
Neves
Livros de Atas, ano de 1928, 1952, 1985


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