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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A janela da alma - e das estações de transbordo

A “Janela da Alma” e das estações de transbordo

Um belo documentário, assinado por João Jardim e Walter Carvalho, “Janela da Alma” trás um tema interessante quanto o que podemos entender sobre a deficiência visual e suas relações estabelecidas no modo de viver das pessoas. Eles entrevistaram artistas, intelectuais e pessoas ditas comuns da Europa e do Brasil. Recorreram à filosofia, à medicina, à biologia, a música e a literatura para investigar o que é a visão ou a magia do olhar humano. Vários depoimentos de personagens com deficiência visuais ligados à área cultural, como Hermeto Pascoal, Eugen Bavcar, fotógrafo e filósofo, as cineastas Marjut Rimminem e Agnés Varda e o depoimento de José Saramago. Saramago comenta sobre o que se entende por cegueira ou das coisas que não queremos enxergar. O Romeu que fala a História se tivesse o primor dos olhos de um falcão ou de uma águia, não se apaixonaria pela bela Julieta. Uma pele que não seria agradável de ver, pois olhos da águia e do falcão veem muito além da capacidade do olhar humano tornando-a, provavelmente, uma mulher feia.
Assim ainda é a questão das mudanças no transporte coletivo na cidade. A propaganda, sempre com o perfil de “grandes inovações” cita a cidade pioneira na integração entre as linhas de ônibus. Mas a pergunta que não se discutiu é se realmente a cidade precisava deste modelo de gestão?  Alternativas foram discutidas? Fica novamente a insistência da Prefeitura de leituras desconexas em relação ao “modus operandis”, solitária em seu gueto de ‘fortes ações’, mas em constantes desgastes pela incapacidade de diálogo.
            As estações de transbordos não são de todo um mal, mas faltou propor um relacionamento democrático até então justificáveis pela inabilidade de lidar com proposições afirmativas de uma cidade em constantes mudanças.
            As reações adversas e seus manifestos, explicações e justificativas também na esfera judicial, mas o que ainda não se ouviu nada sobre as benesses dos custos operacionais que as empresas foram beneficiadas ou alguém duvida que a diminuição de linhas e horários houvesse uma economia básica com a redução de mão de obra, equipamentos e insumos? Mas a mudança vai melhorar a vida de quem mesmo? Algumas incoerências continuam sem a resposta. Talvez cada cidadão afetado tenha sua discórdia, mas retomo a um ponto essencial. A linha Quinta-Cassino funcionou por duas temporadas e desde o ano passado foi suprimida. Alega-se prejuízo, mesmo passando pelo P. Marinha e o P. São Pedro. Esperamos então eternos minutos na Estação Trevo para sempre, a trabalho ou a passeio, seguirmos a trajetória em pé nos corredores da linha Cassino. E também tem que ter o cartão. Sem ele, democraticamente, somos obrigados a pagar 2 passagens, sem o direito do transbordo.
As metáforas e o encanto poético de Saramago vão mais além, propõem que Deus não fez nossos olhos para ver a realidade, pois se assim fosse, estaríamos perdidos. Nossos olhos veem coisas, nem de mais nem de menos, mas um olhar mais atento do espaço que nos cerca não é alentador, é uma janela do desencanto, tempo enfadonho das incertezas.
             

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