General Go: Golbery e as feridas que ainda machucam
Nos últimos tempos, a cidade viu-se envolvida sobre a homenagem ao General Golbery Couto e Silva. Manifestações diversas e debates ríspidos na qual as partes defendiam na ótica de suas verdades, a negação ou a afirmação do projeto então proposto. O enfrentamento no campo das ideias permeava a disputa das contradições centrada no eixo básico: as benesses que Golbery fez pela cidade e suas maquinações perversas do período ditatorial.
São duas verdades em que as partes buscavam destruir como se o essencial da vida do General tivesse sido pautado sob a ótica em disputa. Nem ele gostaria desses “apreços” que estão lhe propondo porque uma das características da figura controvertida de Golbery era sua preferência dos subterrâneos aos holofotes.
Perdeu-se tempo em demonizar ou tentativas simplistas de colocá-lo no panteão das celebridades ingênuas e que tanto ofereceu a sua terra natal. Ora, essa cantilena não trouxe nenhuma novidade aos debates e a necessidade através deste confronto, o significado da ditadura no Brasil.
O General Golbery representou o personagem chave do país desde os anos de 1950 e sua prática é coerente com seu pensamento e não custa nada rever suas obras que demarcaram sua trajetória politica, como o Planejamento estratégico (1955) e Geopolítica do Brasil (1981). (Ver em Frederico Carlos de Sá Costa –‘ Repensando Golbery’ – Universidade Federal de Juiz de Fora) A crítica, neste sentido, é que não se veja só o escárnio ditatorial, base do debate, mas buscar 10 anos antes quando em 1954, lá estava o Tenente-Coronel fustigando no Governo de Getúlio e estimulando a demissão do Ministro do Trabalho, Jango, e esteve preso em 1955 porque foi um dos articuladores da “novembrada”, movimento que visava impedir a posse de JK e de sue vice, Jango. Com a renúncia de Jânio Quadros, oferecia a João Goulart, o vice que assumiria, o sistema parlamentarista, mas sem antes interagir nos bastidores para Goulart não assumir a Presidência do país. Passaria para a Reserva coordenando o IPES, esteve no IBAD e no Movimento Anti Comunista na intensa conspiração contra o governo.
Com o sucesso do Golpe de 1964, foi para o SNI com status de Ministro, mas com a chegada da linha dura de Costa e Silva, cai no ostracismo e foi trabalhar na filial multinacional da Dow Chemical em 1969. Novas polêmicas. Retorna como Chefe de Gabinete Civil em 1974 com Geisel e esteve na condução da “transição transada” cujo ritmo pretendia aumentar, segundo Assunção, (ver em www.espaçoacademico.com.br/070/70assuncao.htm) aproximando-se dos membros da Igreja e outras lideranças. Mas se havia pequenos entendimentos, no Governo Geisel, sérias violações dos direitos humanos, censura e arbitrariedades. Para ele, os inimigos deveriam ser monitorados e enfraquecidos, nunca aniquilados para se fortaleceram e nem criar mártires e guiou-se por essa visão ao conduzir a distensão. Com João Figueiredo na presidência ficou de 1979 a 1981 e contrário às ações do terrorismo de direita desliga-se e vai trabalhar na diretoria do Banco Cidade. Afastou-se da vida pública, como diriam os especialistas, mas continuava a serviço de uma burguesia entrelaçada ao poder e seus interesses e via na sua ideologia pragmática, sempre voltada aos problemas do Brasil e suas injunções conservadoras. Renegava os comunistas, desprezava a democracia, era odiado pela linha dura, nacionalista extremo e pensava na industrialização subordinada ao capital internacional.
A discussão de uma placa em seu nome poderia gerar novas formas da discussão quanto ao período de exceção no Brasil. Uma placa? Um busto? A memória em pedaços, fatiada de acordo com os interesses. Para muitos o “satânico” Dr. Golbery ressuscitado, para outros um eterno injustiçado. A homenagem mal conduzida por um grupo de súditos e a reação imediata da sociedade civil impuseram novas reflexões. As feridas ainda não curaram.
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