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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Matrimônio em Santa Isabel no limiar do Império

     
Nubentes e Matrimônio; o cotidiano casadoiro em Santa Izabel dos Canudos.
1882 a 1885

Introdução
                        O fascínio pela criação do município estava no auge. Os nascimentos e os casamentos seriam a partir de julho de 1882 assentados como sendo oficializados na Villa de Santa Izabel dos Canudos, na Igreja Paroquial e não mais na Capela Filial do Arroio Grande. O 1º casamento lavrado em ata foi em 15.08.1882, após 45 dias da eleição dos vereadores da Câmara Municipal. Estavam definidos os rumos políticos e o perfil dos Liberais e seus projetos para Santa Izabel. Até o Auto de Instalação do novo município em 27.01.1883 tudo seria festivo. O primeiro casamento, primeiro batizado, a penca oficial, o baile da eleição, os vapores e suas bandeiras coloridas e até os tropeiros no passo do São Gonçalo em direção as charqueadas dividiam a alegria da emancipação.
            Depois do janeiro onde o selo da criação do distrito seria carimbado pelo Presidente da Província, tudo se modificaria e nada mais de festa. Retaliações, atrasos documentais, marasmo, insolência e má  vontade em aceitar o novo município de Santa Izabel passava a ser o novo desencanto com o Arroio Grande.
            Os casamentos entre 1882  e 1885 surgem nesta épica página da História local. A sociedade, a mobilidade social, o processo de urbanização e as mudanças de natureza socioeconômicas e políticas ocorridas neste período, compõe um leque visto através dos registros paroquiais quanto aos casamentos em Santa Izabel.

Antes era o sonho, depois o caos

            Porque falar em casamento? Porque lembrar os casamentos do passado se hoje eles estão em desuso? Talvez as respostas se insiram num pequeno recorte da curta existência da Vila de Santa Izabel, portanto, entender a dinâmica que diz respeito a vida social e os aspectos cognitivos de uma sociedade retratada sob dois olhares; da alegria de um pertencimento histórico ao maniqueísmo destruidor das utopias possíveis.
            E é esse o papel do historiador, buscar no passado as respostas para as indagações do presente. È encontrar fragmentos de uma sociedade em erupção, perdida nas insatisfações e longínquas lembranças.
            Antes de tudo é preciso entender o que era casar no século 19, as relações estabelecidas entre as famílias na qual sempre passava pelo consentimento do pai ou em muitas vezes a escolha ‘adequada’ do futuro esposo/esposa e que invariavelmente a imagem da mulher estava associada às de esposa e de mãe. Nesse sentido, a família patriarcal que Gilberto Freire enuncia em sua obra “Casa Grande e Senzala” incluía o quesito de proteção à mulher, pois era competência do esposo zelar pelo bem estar da família.
            A celebração do casamento obedecia a um rito social, reafirmando um conceito moral que entre as classes mais ricas, tendiam a transformar em bens e riquezas, tendo a aprovação familiar como sendo indispensáveis.
            Santa Izabel também teria algumas particularidades interessantes que neste momento o trabalho não consegue ou não se propõe analises individuais, mas chama a atenção a idade dos noivos, principalmente do homem, com média de idade de 28 anos e a idade da mulher que contraia matrimônio com 22 anos.
            Santa Izabel dos Canudos era uma paróquia longe das metrópoles, mas que oferecia acessos relativamente fáceis a centro maiores, comparados a sua situação portuária, mas haveria a oficialização das relações extras oficiais superiores aos chamados ”casamentos legais” dentro do espaço católico aquele tempo?
            Os noivos de outras localidades representam 31% do contingente masculino e 14% dos noivos eram de outras cidades com maior número de nubentes as cidades de Rio Grande, Arroio Grande e Pelotas. O que percebemos quanto a idade dos noivos é que não está somente relacionados aos moradores da Vila, mas contingentes com a mesma média de idade que vinham de outras cidades. Seria a falta de homens brancos e de uma faixa de renda estável para os padrões das oligarquias locais?
            Nos dados tabulados, não foi alterado a média de idade quando analisamos o contingente de noivos filhos de imigrantes, que representam um universo de 21% da presença de estrangeiros nos casamentos na localidade. São famílias de origem uruguaia, (Barcelos, Cordeiro e Gulart) italiana (Trident, Vazzoleri e Magrini) e portuguesa (d’Areas) que basicamente formaram o nicho casadoiro.
            O que podemos definir nesse ensaio sobre os casamentos é que eles tinham faces multifacetadas que caracterizavam o novo município. Economicamente toda a riqueza estava pautada na produção de bois, charque e exportação via porto de Rio Grande, mas a economia periférica do comércio urbano e serviços (mascates, hotéis, carpintaria, ferraria, açougue...) estavam entrelaçadas desde seu 2º distrito, a Estação Piratini, hoje Pedro Osório, a extensa região do Chasqueiro. Também não podemos esquecer as relações escravagistas com a presença maciça de negros  na qual dos casamentos analisados, somente uma noiva em 1884, filha de escrava casaria na Igreja de Santa Izabel. Muito pouco para uma população que representava mais de 50 % dos habitantes do município isabelense.
            O dia escolhido para os casamentos, as segundas-feiras representavam 43% dos dias da semana, mas casavam entre as segundas-feiras ao sábado e os meses que mais casaram foram outubro (6) e novembro (4).
            Assim foram os casamentos em Santa Izabel dos Canudos. Algumas particularidades no recanto sul da Província, mas nos informam os aspectos da mobilidade social e dos agentes culturais de um povo e sua formação etnográfica.

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