E.C Esperança
A arte de ser centenário não deve ser expressa apenas
como manifestação e valorização estética ou de títulos. È antes de tudo, uma
atitude do homem em relação ao seu passado e, neste sentido, as lembranças
tornam-se eternas vigias do tempo, consistentes memórias que aguçam os sonhos
ou as frustrações do passado.
Estou falando isso porque
teria que sintetizar o quase centenário E.C Esperança (Povo Novo, 19/10/1913) e
reviver na memória dos mais velhos as utopias de uma geração e as suas inquietantes
lembranças de uma equipe de vencedores. A geração de Tatá ( Antonio Gustavo
Mendonça das Neves), Bocha ( Edes Mendonça das Neves), Biboca ( Silvio Mendonça
das Neves), Dino (Bernadino Mendonça das Neves) e o Amir, os irmãos que
brilharam nos anos 50 na escola de futebol chamada Esperança. Tatá jogou por 45
anos no time do coração e o Bocha jogou 32 anos vestindo as cores verde e
amarela. A irmã Eloá, 17 anos, era a rainha e eles eram o pilar que garantiram
o título de Campeão Gaúcho de Futebol
amador em 1953.
Um feito inédito. O
adversário, o Olaria de Novo Hamburgo, tomou de 5X4 no jogo em casa e no jogo
de volta (18/04/1954) no campo do E.C Rio Grande, tempos da Buarque de Macedo,
os alemães levaram de 5X0 na prorrogação. Foi o presente dos 40 anos do clube.
Virou magia, empolgadas bandeiras, barulhentos apitos da torcida e suas
matracas coloridas. Desfilaram pela
cidade, afinal,o mundo urbano lhes pertencia e eles viriam do interior para
serem os campeões do estado.
Em seguida, o caçula
Claudio começaria a jogar bola e os insistentes convites para jogarem futebol
nas equipes profissionais de Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre. Tornaram-se
lendas, encanto de quem os viu jogar. Tatá, Bocha e Dino já faleceram, nem
deixaram filhos, mas a herança de um futebol clássico e refinado sobrevive na
memória do velho Povo Novo e essa temporalidade memoralística tende a promover
um profundo contato entre a memória e o esquecimento entrelaçando a experiência
vivida com a possibilidade de reconstruir novos paradigmas do tempo distante.
Em 2013 serão os 100 anos
do E.C Esperança e, provavelmente, raros clubes amadores do Rio Grande do Sul ainda
estejam em plena atividade. O clube vem disputando o campeonato da Campanha com
o 1º e 2º quadro e um projeto com os meninos do Povo Novo na escolinha de
futebol com encontros as quintas-feiras. Em sua sede social fotos e troféus
acumulados no tempo e os bailes já não tem mais o brilho das velhas tradições e
dos exageros personalizados de uma elite branca, mas continua com seu status de
prestigio e, inabalavelmente, uma organização solidificada com o trabalho de
aproximadamente 30 pessoas que ajudam a reconstruir no dia-dia os sonhos de uma
geração. Uma paixão como diria a ex-presidente Teresa Pires, que em minhas
veias o sangue é e sempre será “verde e
amarelo”, ou uma extensão da nossa casa diria o Jorge Wainer das Neves.
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