O lugar onde vivo, a escola que estudo.
Por que trocar o nome?
Ainda
são raros os estudos sobre a educação distrital em Rio Grande. Não obstante, no
plano institucional, um silêncio e desinteresse conveniente nos núcleos das
instituições relacionadas à educação no nosso meio. Poucas as ações afirmativas
no campo das análises e processos avaliadores e nesta lógica que movimenta o
modelo atual, pouco espaço para entender os mecanismos que forjaram no tempo as
nossas identidades culturais. Já falo nestes modos por que vão aparecer
melhorias materiais que constituíram uma melhora significante nas estruturas
escolares, mas a conversa é outra e o ano é 1927. Comemorava-se o centenário da
instituição oficial do ensino primário no Brasil e na Vila da Quinta, fechava
as portas uma das mais interessantes experiências em educação que tivemos em
Rio Grande, a Escola Agrícola da Quinta, mantida pela Ordem de São José de
Murialdo, os padres Josefinos, que durante 12 anos (1915/1927) trouxeram uma
nova concepção de educação nestes recantos de domínios oligárquicos.
O Ato nº 1053 da Intendência
Municipal de 15/10/27, criava a Escola da Palma. Está lá no “Relatório do Município do Rio Grande –
1925/1927” –Biblioteca Rio Grandense-. Foi-se 85 anos, embora o nome da Escola tenha
passado dos 70 anos com o batismo de Machado de Assis. Joaquim Maria Machado
de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta,
novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro
em 21 de junho de 1839 e faleceu em 29/09/1908. Com o nome da Escola, era o
reconhecimento que prestávamos a um dos maiores nomes da literatura da língua
portuguesa. Pois bem. A Escola Machado de Assis, na Palma, trocou de nome.
Agora é Argemiro Dias de Lima. Será que consultaram a comunidade local? Não.
Foi trocado as pressas entre o protocolo e efetivação do novo nome não
ultrapassou 3 semanas. E fora do período letivo, em 03 de fevereiro deste ano
lá estava a singela festa de inauguração da Escola Argemiro de Lima.Talvez não seja justo entrar no mérito dos nomes, mas podemos questionar os critérios que se impõe a troca do nome de uma escola. O que se avalia? Qual o peso justificado? Seria falta de leitura histórica e interesses de grupos? Creio que nome de pessoas da localidade tenha um significado social, estabelece relações de convivências, mas estamos falando de uma Escola de 85 anos. Lá estudaram os avós, pais e filhos da maioria dos moradores atuais.
No antigo prédio de madeira, ponto de encontro dos getulistas que depois moldaram as hastes do trabalhismo, e na urna silenciosa, os descaminhos conservadores da política rio grandina. Das lembranças das tropas de gado até os anos 60 para os Frigoríficos de Pelotas ao descaso de uma estrada ordinariamente mal cuidada por gestões irresponsáveis, aos guris quebrando gelo em tamancos nas manhãs frias de inverno ou do piquete dos petiços no tempo da lonjura onde o ônibus nem existia, e lá estava o Machado de Assis. Símbolo de vida melhor, esperança de aprendizado a dezenas de filhos de agricultores. Sim. Todos eram filhos da pequena propriedade rural do nosso interior como nos tempos atuais.
Nem sei quantos deles leram um dia às relíquias machadianas, nem sei se o Argemiro sabia quem fora Machado de Assis, mas o prédio agora, por capricho dos letrados da cidade leva seu nome. Vai ficar a indignação de muitos ou justiça feita para poucos. Mas precisava trocar o nome mesmo? Não seria mais inteligente uma praça, uma biblioteca, um jardim ou uma sala anexa com as justas homenagens ao Sr. Argemiro, mas assim, em pleno fevereiro? O bom senso diz que a pressa é inimiga da perfeição.
Meu primeiro dia de aula,lembro como se fosse hoje minha proessora Sra.Dulcina Cordeiro,decada de 60.
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