Afrodescendentes e quilombolas. Uma reflexão sobre a Geribanda.
O Pontão de Cultura da FURG realizou este ano o seu encontro cultural com o tema “Identidades” entre os dias 25 a 29 de novembro, propondo algumas reflexões interessantes. Primeiro é que se comemora o ano Internacional dos Afrodescendentes e lá estava a temática afro discutida nas oficinas e seus temas relacionados. Passaram entre outros itens, as discussões do ensino na Universidade, a realidade quilombola e o tema vigente sobre as Cotas Sociais. Era a prioridade dessas discussões em oferecer ferramentas à Universidade na sua caminhada para a implantação do sistema de cotas para negros como uma das principais medidas afirmativas a serem adotadas em defesa da população afro-brasileira, pois possibilitaria a inserção de um contingente considerável de estudantes negros na Universidade local. Hoje as Universidades têm autonomia para criar seus próprios sistemas de cotas, entre elas as reservas para negros, quilombolas, indígenas e ex-alunos das escolas públicas entre outras categorias e a FURG tem em seus créditos o sistema de bonificação, pontuação acrescida na nota do vestibular.
São Ações Afirmativas que visam combater as desigualdades sociais resultados de processos de descriminação negativa a setores da sociedade desprivilegiados ao longo do tempo. Como modelo ( e tem lá suas limitações) participaram da Oficina sobre Afrodescendentes, quilombolas e indígenas, as experiências afirmativas do UFRGS e a Associação dos Estudantes Negros da Universidade Federal de Santa Maria, trazendo suas contribuições no debate entre os representantes dos movimentos sociais negros e quilombolas da região sul, desde Tavares à experiência quilombolas do interior de Pelotas.
A reflexão proposta não é para a Universidade, aliás, os encaminhamentos foram valiosíssimos para futuras ações das Politica de Cotas a serem implantadas. Foram 20 encaminhamentos gerados pelo debate do GT, mas alguns pontos reordenados no documento, o movimento negro precisa repensar. Fora sugestões individuais, mas expõe preocupações quanto à doutrina que os movimentos carregam em suas lutas.
Uma proposta seria de negros votarem somente em candidatos negros. Não. Vota-se em candidatos, que segundo critérios de engajamento político, trabalha ou tem bases no comprometimento da causa negra. Não se pode pensar em mundos a partes, nem dos brancos, nem dos negros, mas uma sociedade que busca corrigir as distorções, heranças da escravidão brasileira até o fim do século 19. Também pouco ajudou a ler trechos de Gobineau, retirados de seu “Ensaio sobre a desigualdade da raça humana” de 1854 na tentativa de sensibilizar a plateia. A teoria e doutrina racial de Joseph Arthur, o Conde de Gobineau foi a base teórica de Hitler ao promover a superioridade da raça ariana. Mas nesses encontros não precisamos entender os conceitos de uma Europa doentia e segregadoura, basta estudar os documentos cartoriais e os Livros de Assentos da Igreja do período escravocrata aqui da nossa volta. Vendas, permutas, empréstimos, hipotecas, testamentos, presentes e açoites no dia-dia do mundo escravista em nosso meio.
Foi apenas uma reflexão diante do manancial produzido pelo GT Afro, Quilombolas e Indígenas e este é o papel da Universidade. Valeu a Geribanda 2011.
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