Os antigos caminhos e estradas para o sul do Rio
Grande foram abertos a partir dos anos de 1720 definindo traçados da circulação
e
o comércio das mulas e, com o gado veio a experiência da integração ainda no
século 18 como uma atividade que consolidou o comércio e o nascedouro da
vocação da economia rio-grandense até os tempos atuais e a formação de uma
identidade histórica. No comércio de cavalgaduras, expedições militares ou nos
passos dos viajantes ainda no século 19 desenharam rumos que a modernidade
esqueceu e surgiram outros caminhos rústicos e naturais, mas viria o saibro e o
asfalto na demanda dos novos meios de transportes à gasolina e a diesel. A
estrada Rio Grande a Pelotas terminou de ser asfaltada somente na década de 50
e quem disse que lá não estavam as primeiras “bancas” no Povo Novo.
A velha estrada não tinha acostamento e
um movimento fraco, a não ser nos fins de semana e, lembra Gilnei Martins, as
mudas de jasmim, ficavam na beira do asfalto e não viravam com o trânsito da
época. Os caminhões a gasolina como o Ford F 600 e o Chevrolet Brasil dos anos
60 cortavam o movimento diário da estrada. Mudavam o perfil quando outros tipos de movimento, quando, por
exemplo, começava o corte de arroz no
Taim e Santa Vitoria do Palmar que ainda era manual, centenas de carroças, carroções
e trabalhadores rumavam para a colheita à foice do arroz e nos trabalhos das
trilhadeiras. Hoje com a colheita mecanizada e o movimento para o Porto compõe outra
dinâmica, além do intensivo movimento em direção à praia do Cassino, mas
segundo os proprietários mais antigos, se vendia muito mais do que hoje.Não se comercializa mais galinhas, marrecos, gansos como antigamente, mas continua a tradição dos frutos da época colhidos na região como o araçá, butiás e pitangas que “os guris vendiam na beira da estrada.” Nedy Machado Borges vende desde este tempo, mas fixo na beira da estrada está a 30 anos comprando produtos da localidade e com uma lista de produtores que chega a 100. Na alta temporada, a cebola, alho, abóboras de pescoço, moranga e melancia são os produtos mais procurados pelos visitantes e turistas. Também concorda que o movimento aumentou na estrada, mas menos turistas ou caminhoneiros param para levarem os produtos locais.
A importância das ‘bancas’ vai além do que os turistas e compradores possam imaginar. È uma rede de abastecimento dos produtos locais que depende exclusivamente das vendas nas bancas, oriundos basicamente das pequenas propriedades do entorno distrital. A agricultura familiar se desenvolve e se sustenta, em muitos casos, graças ao comércio estabelecido à beira da estrada.
A duplicação da estrada tem lá seus contra tempos, mas problemático mesmo é a insistência dos órgãos responsáveis em negar o espaço público na comercialização dos produtos. Ainda é cedo, mas necessário se faz a conscientização e o entendimento social produtivo desse patrimônio à beira da estrada.
Participaram;Gilnei Martins, Agricultor
e morador do Povo Novo e Cledenir
Vergara Mendonça
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