História - Povo Novo
Em um primeiro momento, se faz necessária a contextualização histórica do período na qual surge a Igreja do Povo Novo. Sua essência da ação catequizadora na região está demarcada sob dois pontos fundamentais: O povoado de pequenos lavradores portugueses surge durante a invasão espanhola no Rio Grande de São Pedro entre 1763 a 1776 e o assentamento estava localizado à margem da Estrada Real da Palma, onde os espanhóis colocaram parte dos colonos portugueses que não conseguiram retirar-se ante a invasão. Carreiros, Paulista e Mangueira foram os outros núcleos para assentarem portugueses sem condições de fuga ou por escolha, decidiram permanecer em Rio Grande. Fortes também realça essa possibilidade, afirmando “[...] que em conseqüência da invasão alguns teriam ficado em suas terras na vila do Rio Grande; outros fugiram para Santa Catarina e que a maior parte teria acompanhado o governador Elói de Madureira em seu êxodo para Viamão”
Assim sendo o núcleo da Torutama, que já existia anteriormente, a Fazenda Real na ilha da Torutama, recebeu a maior parte das famílias portuguesas, formando o Pueblo Nuevo del Torutama nas terras pertencentes a Manoel Fernandes Vieira, que se retirou durante o domínio espanhol.
Quando da restauração das terras portuguesas, o antigo proprietário retoma a sua área, originárias estas das primeiras doações de sesmarias na região, as 112 famílias de lavradores e criadores são transferidos para o Rincão d’El Rey, a área hoje compreendida pelo atual distrito. Desenhava-se assim um novo processo de firmação fundiária e social quanto ao domínio português pós- tratado de Santo Idelfonso de 1776, ao menos nesta região.
Com a mudança, no ano de 1777, “[...] mais tarde alguns destes portugueses e outras famílias foram habitar o novo lugar duas léguas distantes, e aí edificaram uma casa para celebrar missa [...] ”
Regularizou-se a posse terra a moradores que possuíam títulos e animais – eram 91 – e também os que não tinham a posse de terra durante a invasão, somando 47 proprietários , mas não fora uma ação imediata este processo de estabilização. Miséria, caos e indefinições marcaram o período de estruturação da povoado, quando somente em 1785 os proprietários regularizaram suas propriedades com doações de terras pela Coroa Portuguesa. As datas de terra prometidas (1 data=272hectares) viraram para a maioria pequenas áreas que raramente ultrapassavam os 10 hectares, verdadeiros minifúndios com assentamentos demorados e quando instalados as pressões por parte dos latifundiários, também com doações de sesmaria ((equivalente a 13.000 hectares), “fizeram-nos e, não por exceção, abandonar terras ou pagar pelas que legalmente lhe pertenciam por doação governamental. ”
Por Provisão Eclesiástica de 07/02/1785, cria-se a Capela Curada de Nossa Senhora das Necessidades do Povo Novo, tendo como capelão o Padre Manoel dos Santos Rezende, nomeado em 05/12/1785.
Os Livros de assento de Batismo, livres ou de escravos, de Casamento e Óbitos começam em 1792 e estão na Mitra Diocesana em Rio Grande. Em 1795 foi elevada a Curato dependente da Matriz do Rio Grande, a Igreja de São Pedro. Por lei da Assembléia Provincial de 06/05/1846, lei nº 35, Povo Novo é elevado a Paróquia, criando assim a Freguesia do Povo Novo. Estivera pregando no local o padre jesuíta Tiago Villarupia e o primeiro pároco nomeado foi em abril de 1847, Raimundo Tarrago .
Nesse sentido é importante citar o único padre colado, o padre Estevão de Semiglia, nomeado em 27/10/1856, sendo apresentado por decreto do governo em 25/02/1865 e confirmada canonicamente a 4/3/1865 por D. Sebastião Dias Laranjeira, que criara a Vara Eclesiástica em junho de 1863, segundo Rupert, que acompanhou a trajetória da presença de vigários encomendados na Igreja até o surgimento da República.
O desenvolvimento viria em um primeiro ciclo com a cultura do trigo. Assim ficou demarcado a opulência econômica no final da década de 1780 com o plantio de 7.472 hectares de trigo no Povo Novo a sua retração da cultura nos campos a partir das primeiras décadas dos anos oitocentos. Aos poucos a produção de bois para as charqueadas em Pelotas e culturas de subsistência voltadas para o abastecimento da Vila do Rio Grande, identificavam igualmente o modelo produtivo característico desenvolvido pela Província desaparecendo a produção em larga escala da cultura. Assim desenvolvia a Freguesia. Negros cativos em uma população equivalente a 40% do universo de moradores, açorianos e seus descendentes e os grandes proprietários de terras, formariam um mosaico cultural e social muito mais próximos da exuberante Pelotas do que Rio Grande.
Em 12/12/1913, a capela deixou de ser a sede da Paróquia, sendo esta transferida pelo Bispo de Pelotas para a Igreja de Nossa Senhora da Penha, no nascente distrito de Julio de Castilhos, hoje Vila da Quinta.
Quanto às reformas solicitadas, e isto não significa inserções arquitetônica no mesmo período, cita-se na ata da Câmara Municipal do Rio Grande em 13/02/1856, que a Igreja precisava ser reformada, pois o “telhado estava arriado, imagens defeituosas e precisando de 5 banquetas completas para os 5 altares” e a reclamação que os 6 contos de réis decretados pela Assembléia Provincial ainda não havia chegado. Já no ano de 1878, forma-se uma comissão na povoação para novos melhoramentos na Igreja das Necessidades. È bem provável que pequenas obras tenham sido feitas, o que no trabalho desenvolvido não é pesquisado, no começo do século XX, mas efetivamente o que se tem de noticias é do ano de 1958 quando ocorre o tombamento lateral e a cobertura, menos a fachada, sendo reconstruída a Igreja, obedecendo, segundo entrevistas com antigos moradores, o mesmo estilo e tipificação arquitetônica.
Bibliografia
Manoel H. de Couto e Rey - Carta Coreográfica que compreende a Barra de Rio Grande de S. Pedro e terrenos que medeiam entre a Freguesia do Estreito, o arroio de Taim e Campos de Piratini. Cópia - Centro de Documentação Histórica – FURG.
QUEIROZ. Maria Bertulinne. A Vila do Rio Grande de São Pedro 1737 -1822. Rio Grande: FURG, 1987
FORTES. João Borges. Os casais açorianos: presença lusa na formação do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro, 3ª edição, 1999. P. 98
DIAS LOPES. Pe. Acediago Vicente Zeferino. Notas sobre a história eclesiástica no Rio Grande do Sul – 1737-1891- p. 97/98. Arquivo Cúria Metropolitana – Porto Alegre
Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul – Registro de Sesmarias - Livro 1/2/3
COPSTEIN. Raphael. O Trigo no continente de São Pedro. IN: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, nº 132, Porto Alegre, 1998. p. 29 a 92
RUPERT. Arlindo. História da Igreja no Rio Grande do Sul. EST Editora. Vol.III – Curatos do tempo colonial que se tornaram paróquias, p. 69/70
COPSTEIN. Raphael. O Trigo no continente de São Pedro. IN: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, nº 132, Porto Alegre, 1998. p. 62
Mappa de Listas de Família: 1.328 livres, 19 libertos, 719 escravos – Ano de 1858 – Igreja Nossa Senhora das Necessidades – AHGRS.
Primeiro Lustro da Diocese de Pelotas. 1911- 1916. Cúria Diocessana - Pelotas