Radio Fusion

domingo, 5 de setembro de 2010

Brasilia - Feliz aniversário



Brasilia, 50 anos


    Definir o nascimento de Brasilia como uma inspiração mística, não chega a ser um exagero. São João Bosco anunciava sua construção no coração do país, demarcando até mesmo os 15º de latitude sul. José Bonifácio, o patriarca da Independência, tinha o projeto de levar a capital do Império para um “sitio sadio, ameno e fértil” no interior do país. Na República e sua primeira Constituição de 1891, nas Disposições Preliminares, Art. 3º, cita que no planalto central da República, ficará pertencendo a União uma zona de 14.400km que será demarcada para nela estabelecer a futura capital federal. Mas a ideia não recebera entusiastas ao longo do tempo. A inspiração romanceada de uma metrópole no meio do nada, não seduzia os governantes. Foi com Juscelino Kubitshek que construir Brasilia tornou-se uma prioridade. Alinhavada no eixo pragmático de seu Plano de Metas, comporia uma visão de urbanismo, arquitetura diferenciada e original. Para Oscar Niemeyer, seriam formas novas que surpreendessem pela sua leveza e liberdade de criação e para integrar a nova capital federal ao país, rasgaram-se a quatro direções os caminhos que chegariam à Brasilia, que fugiria das pressões das massas do Rio de Janeiro, mas jamais poderia ficar isolada no meio do Planalto Central.

    Pioneiros e desbravadores propunham um novo estágio baseado no sonho da integração e na posse do interior brasileiro e que, no processo de modernização, viria um novo projeto nacional longe dos encantos do mar. Brasilia tinha essa essência e ela, na verdade é a encarnação da História do Brasil, com suas virtudes e mazelas, modernismo puxado pelo coronelismo e seus métodos excludentes. Dos extensos latifúndios de ontem, assumem os grileiros de hoje amaciados em escrituras de fé pública e duvidosas e nisso, Brasilia é imbatível.

    Os velhos udenistas ainda rugiam até o golpe do governador Arruda, mas a análise do que ocorre na capital federal é complexo. Corruptos e corruptores, onde os negócios do Estado são para fins privados, demarcam quase que historicamente, nossa relação com a politica. As elites brasilienses, além da criatividade em abocanhar gordas fatias das divisas transferidas pela União, solaparam dos cofres públicos arranjos e dinheiro oriundos de contratos de limpeza, transporte urbano, processamento de dados e com os projetos de urbanização, entre outras especiarias do mercado político e que aqui no atacado as coisas não são diferentes.

    O mensalão e a politica do governador Arruda parecem, pela dimensão dos fatos, coisa nova, mas não são. São pragas contaminantes da política brasileira, arranjam parcerias e conveniências partidárias pelas demais unidades da federação.

    Assim é Brasilia e o sonho de seu criador, Juscelino Kubitshek, onde os palácios seriam, segundo Niemeyer, “como que suspensos, leves e brancos, nas noites sem fim do Planalto”, mas que aos poucos tornou-se um símbolo amargo do desencanto da politica. Brasilia é a nossa menina de 50 anos, mas herdou todos os vícios possíveis do DNA corporativo do estado brasileiro.

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