A Janela da Alma - e do ônibus
Um belo documentário, assinado por João Jardim e Walter Carvalho, “Janela da Alma” trás um tema interessante quanto o que podemos entender sobre a deficiência visual e suas relações estabelecidas no modo de viver das pessoas. Eles entrevistaram artistas, intelectuais e pessoas ditas comuns da Europa e do Brasil recorreram à filosofia, à medicina, à biologia, à música e à literatura para investigar o que é a visão. Vários depoimentos de personagens com deficiência visuais ligados à área cultural, como Hermeto Pascoal, Eugen Bavcar, fotografo e filósofo, as cineastas Marjut Rimminem e Agnés Varda e o depoimento do José Saramago. Saramago comenta sobre o que se entende por cegueira ou das coisas que não queremos enxergar. O Romeu que fala a História se tivesse os olhos de um falcão ou de uma águia, não se apaixonaria pela bela Julieta. Uma pele que não seria agradável de ver, pois olhos da águia e do falcão veem muito além da capacidade do olhar humano.
Assim é a questão das mudanças no transporte coletivo na cidade. A propaganda, sempre com o perfil de “grandes inovações” cita a cidade pioneira na integração entre as linhas de ônibus. Mas a pergunta que não se discutiu é se realmente a cidade precisava deste modelo de gestão? Alternativas foram discutidas? Qual a participação das empresas concessionárias na elaboração do projeto? Fica novamente a insistência da Prefeitura de leituras desconexas em relação ao “modus operandis”, solitária em seu gueto caduco de ‘fortes ações’, mas em constantes desgastes pela incapacidade de dialogo.
As estações de transbordos não são de todo um mal, mas faltou propor um relacionamento com a comunidade, nem foi proposto antecipadamente medidas explicativas, também faltou agentes que estivessem nas rotas de mudanças, mas isto pode ser até justificável pela inabilidade de lidar com proposições afirmativas de uma cidade em constantes mudanças, quando nem as próprias estações estavam com condições de uso no dia da inauguração.
As reações adversas e seus manifestos, explicações e justificativas, mas ainda não se ouviu nada sobre as benesses dos custos operacionais que as empresas serão beneficiadas ou alguém duvida que a diminuição de linhas e horários vá haver uma economia básica com a redução de mão de obra, equipamentos e insumos? Mas a mudança vai melhorar a vida de quem mesmo?
As metáforas e o encanto poético de Saramago vão mais além, propõem que Deus não fez nossos olhos para ver a realidade, pois se assim fosse, estaríamos perdidos. Nossos olhos veem coisas, nem de mais nem de menos, mas um olhar mais atento do espaço que nos cerca não é alentador, é uma janela do desencanto enfadonho das incertezas.
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