Radio Fusion

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

África - uma história rejeitada


Jornalismo Comunitário


Jornalismo Comunitário - O que é afinal


 Instrumento de Transformação Social


           O trabalho neste momento não é a analise dos jornais produzidos no interior – Vila da Quinta e Povo Novo – desde 1899 com o folhetim com      tinta nanquim “ O Furão” e depois com o jornal “O Gaúcho” de 1906 editado na Vila da Quinta e o jornal católico “Mensageiro” de 1919, passando pelas experiências do Eco do Interior e  o “Novo Tempo”, este do Povo Novo.

 A análise, portanto, é com a configuração de um instrumento de comunicação na qual esses periódicos estão inseridos – ou não – os questionamentos de uma realidade social. È um texto baseado no trabalho de Elaine Tavares, jornalista e professora que versa esse artigo.
           Por suas características peculiares, o jornal voltado para comunidades específicas deve ser, naturalmente, um instrumento de transformação social, sem o que não faz sentido. Para tanto, o profissional deve trabalhar sempre imbuído dos melhores princípios éticos, tanto no relacionamento com a própria comunidade, como no relacionamento com as fontes de informação. Muitas vezes é aqui que mora o perigo. Devido à proximidade, não raro as fontes tentam manipular o jornal em proveito próprio. Outras vezes é o jornalista que se aproveita do seu prestígio na sociedade para deturpar, com prepotência, o que foi dito, conforme os seus interesses ou os interesses do jornal. Ambos são caminhos errados, a serem evitados, por mais fortes que sejam as pressões e as tentações.
            Um modo de identificar-se com a comunidade, buscando permanente interação com ela, é valorizar a cultura e os costumes locais.O jornalismo comunitário deve estudar mais a fundo a formação histórica e social da população à qual se dirige. Aprofundar-se nos costumes que caracterizam a cultura popular (religiosidade, arte, vida familiar, formas de sociabilidade, educação,  etc.) e aprender a respeitar e valorizar essa cultura, reconhecendo nela um processo dinâmico e vivo, é um bom começo para quem se inicia no jornalismo comunitário.
            Para captar a alma do povo, o jornalista será sempre um observador privilegiado e um estudioso da sociologia, aprendendo que os regionalismos integram, na sua multiplicidade de variantes, a alma do povo brasileiro. Nas linhas finais de sua última obra (O Povo Brasileiro – A formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1995), Darcy Ribeiro traça um  perfil que todo jornalista deve conhecer e sobre o qual deve refletir para bem cumprir o seu ofício de comunicador:

            “...apesar de feitos pela fusão de matrizes tão diferenciadas, os brasileiros são, hoje, um dos povos mais homogêneos lingüística e culturalmente e também um dos mais integrados socialmente da Terra. Falam a mesma língua, sem dialetos. Não abrigam nenhum contingente reivindicativo de autonomia, nem se apegam a nenhum passado. Estamos abertos é para o futuro”, afirma o sociólogo depois de estudar as origens étnicas de nosso povo no índio, no negro e no europeu, mais tarde enriquecidas com a chegada dos orientais.

            Diante de tanto jornalista deslumbrado com outras culturas e por isto mesmo alimentando complexos de inferioridade pelos traços culturais de seu país ou de sua região, Darcy Ribeiro proclama:

            “Nações há no Mundo Novo – Estados Unidos, Canadá, Austrália – que são meros transplantes da Europa para amplos espaços além-mar. Não apresentam novidade alguma neste mundo. São excedentes que não cabiam mais no Velho Mundo e aqui vieram repetir a Europa, reconstituindo suas paisagens natais para viverem com mais folga e liberdade, sentindo-se em casa. É certo que às vezes se fazem criativos, reinventando a república e a eleição grega. Raramente. São, a rigor, o oposto de nós”.

            A vocação latina do povo brasileiro, a natural integração continental da América do Sul, cada vez mais discutida em nossos dias, a partir do Mercosul retomado na Administração de Luis Inácio Lula da Silva,  é vislumbrada pelo sociólogo:

            “Nosso destino é nos unificarmos com todos os latino-americanos por nossa oposição comum ao mesmo antagonista, que é a América anglo-saxônica, para fundarmos, tal como ocorre na  Comunidade Européia, a Nação Latino-Americana sonhada por Bolívar. Hoje, somos 500 milhões, amanhã seremos 1 bilhão. Vale dizer, um contingente humano com magnitude suficiente para encarnar a latinidade em face dos blocos chineses, eslavos, árabes e neobritânicos na humanidade futura”.

             Darcy Ribeiro deixou-nos um legado de otimismo que muitas vezes falta ao jornalista:

            “Estamos nos construindo para florescer amanhã como uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidades. Mais generosa, porque aberta à convivência com todas as raças e todas as culturas e porque assentada na mais bela e luminosa província da Terra”.

            Na Comunidade, o jornalista verá refletido, como num espelho,  um pouco de cada um dos matizes que conformam a alma brasileira. Na cobertura diária, nas reuniões com o povo, nas festas populares, nas tradições locais, o comunicador entrará em contato com o  Brasil crioulo, o Brasil caboclo, o Brasil sertanejo, o Brasil caipira, os Brasis sulinos, de que fala o mesmo autor.

            “Embora nos ensinem a ter um modo de vida refinado, civilizado e eficiente – numa palavra, culto – não conseguimos evitar que muitos objetos e práticas que qualificamos de populares pontilhem nosso cotidiano. Samba, frevo, maracatu, vatapá, tutu de feijão e cuscuz, seresta, repente, folheto de cordel, congada, reisado, bumba-meu-boi, boneca de pano, talha, mamulengo, colher de pau, moringa, peneira, carnaval, procissão, benzimento, quebrante, simpatia, chá de ervas etc são palavras familiares, algumas numa região, outras noutra, com sotaque italiano, japonês, alemão ou árabe, ou ainda de modo supostamente puro”, observa o pesquisador Antonio Augusto Arantes em “O Que é Cultura Popular” ( São Paulo: Brasiliense, 1985).

            Resgatando a cultura popular ( que tanto pode ser instrumento de conservação como de transformação social, segundo Ferreira Gullar), nas suas várias manifestações, o jornalismo comunitário estará contribuindo para a formação da cidadania, para que o desconforto das pessoas contra a desigualdade social gerada pela política neo-liberal não se transforme em mero sentimento de constrangimento ou de vergonha, mas que se afirme como o inconformismo que leva à luta por uma situação de justiça, de igualdade, de solidariedade.

            Por isto mesmo o jornalismo comunitário não deve se voltar para grupos, porque isto significaria oprimir ainda mais o povo através da desinformação ou do sectarismo político-partidário. Deve, isto sim, abraçar as causas populares e usar a força do veículo comunitário junto aos que têm poder de decisão para forçar a solução dos problemas que afligem a comunidade, no seu dia-a-dia.

            É nobre e de grande responsabilidade a tarefa do jornalismo comunitário.

            A propósito de cultura popular e cidadania, o educador Paulo Freire participou, como conferencista, da produção de um vídeo popular em apoio à campanha de erradicação do analfabetismo promovida pelo Banco do Brasil em maio de 1994, com o título “Educação e Mudança”. E ao falar para educadores, Paulo Freire está falando, naturalmente, para líderes comunitários que têm o pode de influir na opinião pública do lugar onde trabalham. Entre esses líderes estão, naturalmente, os jornalistas comunitários, nos quais a comunidade aprende a confiar e dos quais espera comportamento ético, sereno e responsável.

            Segundo ele, a tarefa do educador é uma tarefa “gnosiológica”, isto é, que envolve o processo do conhecimento. Para transmitir ensinamentos, ele precisa ter clareza política, visão de mundo e método de trabalho. À medida que transfere o conhecimento, ele “reconhece” o que conheceu durante o estudo do objeto, capacitando-se, assim, cada vez mais, como formador.

            Na comunidade, o jornalista é permanentemente convidado a integrar órgãos colegiados, associações, grupos de debate, jurado de eventos culturais etc. Isto ocorre porque a comunidade reconhece nele a capacidade de liderar e de influenciar. Dotado de princípios éticos, o comunicador comunitário deve aproveitar esse contato direto para estar sempre aprendendo com a comunidade de modo a poder servi-la cada vez melhor, sem jamais impor os seus processos, mas sempre discutindo, democraticamente, o melhor caminho em cada situação.

            De quem lidera, a comunidade também aguarda um pouco de esperança, de estímulo, alguém que sabe não apenas criticar mas também propor soluções. Paulo Freire denuncia como artimanha do capitalismo neoliberal a estratégia de dizer que as utopias morreram, que não adianta mais sonhar, que a pobreza é um determinismo histórico, que os pobres devem se conformar com a vida que levam etc.

            O formador de opinião deve enfrentar essa barreira, segundo Freire, porque é uma barreira imposta pela ideologia das classes dominantes. O educador/formador deve  resgatar a esperança do povo num mundo melhor, fazendo-o sentir-se sujeito da história e não mero objeto dela ou um joguete do destino. Se há exclusão social a culpa não é dos excluídos, mas do modelo perverso de sociedade que temos. Por isto a cidadania é um processo em permanente construção, é um direito a ser exercido por todos, sem qualquer tipo de exclusão por analfabetismo, cor, situação econômica, crença, convicção política etc. Na medida que o comunicador comunitário  dá as costas para os interesses do coletivo e passa a servir a este ou aquele grupo, ele está traindo a confiança da comunidade e retirando dela o direito à cidadania. E ninguém pode tirar do outro o direito de sonhar e de lutar. “A existência ultrapassa a vida; pode haver vida sem sonho, mas não há existência sem sonho”, diz Paulo Freire esclarecendo que existir socialmente, como cidadão, é mais que viver biologicamente como qualquer ser vivo.

            O jornalista comunitário não pode se limitar a perceber que tem nas mãos o dever social de mudar o mundo, de torná-lo melhor e mais justo. Ele precisa assumir, na prática, esse discurso, colocando seu trabalho, seu jornal, seu veículo, a serviço da coletividade em toda e qualquer circunstância.

            Se não estiver preparado para ter uma visão crítica da história e da sociedade, o jornalista poderá contribuir para alienar ainda mais ao invés de libertar os excluídos. “Quando o Sujeito não se reconhece como produtor das obras e como sujeito da história, mas toma as obras e a história como forças estranhas, exteriores, alheias a ele e que o dominam e perseguem, temos o que Hegel designa como alienação. Esta é a impossibilidade do sujeito histórico identificar-se com sua obra, tomando-a como um poder separado dele, ameaçador e estranho”, observa Marilena Chauí em O Que É Ideologia ( São Paulo: Brasiliense, 1980).

            Na comunidade, como já dito, o jornal e o jornalista devem  apoiar e incentivar as manifestações da cultura popular, como teatro, música, poesia, arte etc. Para Antonio Arantes, “fazer qualquer modalidade de arte é construir, com cacos e fragmentos, um espelho onde transparece, com as suas roupagens identificadoras particulares, e concretas, o que é mais abstrato e geral num grupo humano, ou seja, a sua organização, que é condição e modo de sua participação na produção da sociedade

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Os Maias e o juizo final

      
       Nossos dias estão contados, preparem-se para o juízo final. Conheçam o templo sagrado de uma civilização perdida e conheçam a verdade sobre a profecia maia. Os maias realmente enxergavam o passado e o presente com precisão extraordinária? A data exata do nosso fim estaria oculta em seus antigos textos? O tempo está se esgotando, a contagem regressiva começa agora. Veja o video.

Os Maias e a Profecia do Juizo Final

terça-feira, 3 de julho de 2012

E.C Esperança - Povo Novo

E.C Esperança
   A arte de ser centenário não deve ser expressa apenas como manifestação e valorização estética ou de títulos. È antes de tudo, uma atitude do homem em relação ao seu passado e, neste sentido, as lembranças tornam-se eternas vigias do tempo, consistentes memórias que aguçam os sonhos ou as frustrações do passado.
         Estou falando isso porque teria que sintetizar o quase centenário E.C Esperança (Povo Novo, 19/10/1913) e reviver na memória dos mais velhos as utopias de uma geração e as suas inquietantes lembranças de uma equipe de vencedores. A geração de Tatá ( Antonio Gustavo Mendonça das Neves), Bocha ( Edes Mendonça das Neves), Biboca ( Silvio Mendonça das Neves), Dino (Bernadino Mendonça das Neves) e o Amir, os irmãos que brilharam nos anos 50 na escola de futebol chamada Esperança. Tatá jogou por 45 anos no time do coração e o Bocha jogou 32 anos vestindo as cores verde e amarela. A irmã Eloá, 17 anos, era a rainha e eles eram o pilar que garantiram o título  de Campeão Gaúcho de Futebol amador em 1953.
       Um feito inédito. O adversário, o Olaria de Novo Hamburgo, tomou de 5X4 no jogo em casa e no jogo de volta (18/04/1954) no campo do E.C Rio Grande, tempos da Buarque de Macedo, os alemães levaram de 5X0 na prorrogação. Foi o presente dos 40 anos do clube. Virou magia, empolgadas bandeiras, barulhentos apitos da torcida e suas matracas coloridas. Desfilaram   pela cidade, afinal,o mundo urbano lhes pertencia e eles viriam do interior para serem os campeões do estado.
      Em seguida, o caçula Claudio começaria a jogar bola e os insistentes convites para jogarem futebol nas equipes profissionais de Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre. Tornaram-se lendas, encanto de quem os viu jogar. Tatá, Bocha e Dino já faleceram, nem deixaram filhos, mas a herança de um futebol clássico e refinado sobrevive na memória do velho Povo Novo e essa temporalidade memoralística tende a promover um profundo contato entre a memória e o esquecimento entrelaçando a experiência vivida com a possibilidade de reconstruir novos paradigmas do tempo distante.
     Em 2013 serão os 100 anos do E.C Esperança e, provavelmente, raros clubes amadores do Rio Grande do Sul ainda estejam em plena atividade. O clube vem disputando o campeonato da Campanha com o 1º e 2º quadro e um projeto com os meninos do Povo Novo na escolinha de futebol com encontros as quintas-feiras. Em sua sede social fotos e troféus acumulados no tempo e os bailes já não tem mais o brilho das velhas tradições e dos exageros personalizados de uma elite branca, mas continua com seu status de prestigio e, inabalavelmente, uma organização solidificada com o trabalho de aproximadamente 30 pessoas que ajudam a reconstruir no dia-dia os sonhos de uma geração. Uma paixão como diria a ex-presidente Teresa Pires, que em minhas veias o sangue  é e sempre será “verde e amarelo”, ou uma extensão da nossa casa diria o Jorge Wainer das Neves.

Escola Machado de Assis - Palma. Trocaram o nome.


O lugar onde vivo, a escola que estudo. Por que trocar o nome?

Ainda são raros os estudos sobre a educação distrital em Rio Grande. Não obstante, no plano institucional, um silêncio e desinteresse conveniente nos núcleos das instituições relacionadas à educação no nosso meio. Poucas as ações afirmativas no campo das análises e processos avaliadores e nesta lógica que movimenta o modelo atual, pouco espaço para entender os mecanismos que forjaram no tempo as nossas identidades culturais. Já falo nestes modos por que vão aparecer melhorias materiais que constituíram uma melhora significante nas estruturas escolares, mas a conversa é outra e o ano é 1927. Comemorava-se o centenário da instituição oficial do ensino primário no Brasil e na Vila da Quinta, fechava as portas uma das mais interessantes experiências em educação que tivemos em Rio Grande, a Escola Agrícola da Quinta, mantida pela Ordem de São José de Murialdo, os padres Josefinos, que durante 12 anos (1915/1927) trouxeram uma nova concepção de educação nestes recantos de domínios oligárquicos.
            O Ato nº 1053 da Intendência Municipal de 15/10/27, criava a Escola da Palma. Está lá no “Relatório do Município do Rio Grande – 1925/1927” –Biblioteca Rio Grandense-.  Foi-se 85 anos, embora o nome da Escola tenha passado dos 70 anos com o batismo de Machado de Assis. Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839 e faleceu em 29/09/1908. Com o nome da Escola, era o reconhecimento que prestávamos a um dos maiores nomes da literatura da língua portuguesa. Pois bem. A Escola Machado de Assis, na Palma, trocou de nome. Agora é Argemiro Dias de Lima. Será que consultaram a comunidade local? Não. Foi trocado as pressas entre o protocolo e efetivação do novo nome não ultrapassou 3 semanas. E fora do período letivo, em 03 de fevereiro deste ano lá estava a singela festa de inauguração da Escola Argemiro de Lima.
            Talvez não seja justo entrar no mérito dos nomes, mas podemos questionar os critérios que se impõe a troca do nome de uma escola. O que se avalia? Qual o peso justificado? Seria falta de leitura histórica e interesses de grupos? Creio que nome      de pessoas da localidade tenha um significado social, estabelece relações de convivências, mas estamos falando de uma Escola de 85  anos. Lá estudaram os avós, pais e filhos da maioria dos moradores atuais.
          No antigo prédio de madeira, ponto de encontro dos getulistas que depois moldaram as hastes do trabalhismo, e na urna silenciosa, os descaminhos conservadores da política rio grandina. Das lembranças das tropas de gado até  os anos 60 para os Frigoríficos de Pelotas  ao descaso de uma estrada ordinariamente mal cuidada por gestões irresponsáveis, aos guris quebrando gelo em tamancos nas manhãs frias de inverno ou do piquete dos petiços no tempo da lonjura onde o ônibus nem existia, e lá estava o Machado de Assis. Símbolo de vida melhor, esperança de aprendizado a dezenas de filhos de agricultores. Sim. Todos eram filhos da pequena propriedade rural do nosso interior como nos tempos atuais.
            Nem sei quantos deles leram um dia às relíquias machadianas, nem sei se o Argemiro sabia quem fora Machado de Assis, mas o prédio agora, por capricho dos letrados da cidade leva seu nome. Vai ficar a indignação de muitos ou justiça feita para poucos. Mas precisava trocar o nome mesmo? Não seria mais inteligente uma praça, uma biblioteca, um jardim ou uma sala anexa com as justas homenagens ao Sr. Argemiro, mas assim, em pleno fevereiro? O bom senso diz que a pressa é inimiga da perfeição.


terça-feira, 19 de junho de 2012


              O espaço que ainda espera a outorga da radio comunitária, teve até  meados do mês de junho - 2012 - mais de 2.550 visualizações no blog da Estação Quinta. Basicamente passou a ser um espaço de pesquisa, opção de leitura de estudantes e a comunidade em geral. Mesmo com algumas dificuldades, entre elas o acidente que tive, a meta e o objetivo foi de certa forma compensador. Manter um sitio cultural não é das tarefas mais fáceis.
            Dos artigos mais acessados, estão Vila da Quinta - Síntese Histórica com 221 visualizações, seguidas  da 'SIRQ - Uma instituição centenária' com139. 'A primeira aula pública na Vila da Quinta com 78 e a Igreja de Nossa Senhora das Necessidades do Povo Novo e Tropas de Gado compõe um leque das matérias mais acessadas.
           Quanto as visualizações de páginas por países, o Brasil corresponde a 2.203, E.U.A 88, Alemanha 54, Portugal 48, França 34 e as demais visitações corresponde a Rússia, Eslovênia, Itália, Canada e outros países.
          Por navegador, a Internet Explorer corresponde a 47%, Chrome com 28 % e o Firefox com 19%.
          A origem do tráfego, basicamente vem das páginas http//www.estacaoquinta.blogspot.com e do sitio de procura http//google.com/search.

    Valeu e obrigado

Obras úteis, obras necessárias ou obras eleitoreiras?


   
            Ainda vai faltar a grande obra. 

Em 2009, o Tribunal de Contas da União (TCU) lançou uma cartilha interessante “Obras Públicas. Recomendações Básicas para Contratação e Fiscalização de Obras de Edificações Públicas.” Receituário simples que define  toda a construção, reforma, fabricação, recuperação ou ampliação de bem público como uma obra pública. Essa reflexão nasce diante de um quadro atual das obras na cidade. Notadamente há um esforço de “ações fortes” em que tendem a fugir da Lei Eleitoral com premissas e interesses definidos. Não é uma relíquia da atual administração, mas um compêndio de vicissitudes da politica brasileira no que tange a grandes obras em períodos pré-eleitorais. As gestões novas reclamam durante dois anos da herança recebida, depois surgem obras e, um pouco estranho, quando administrações de décadas vendem as mesmas ilusões e na verdade deveriam colher os frutos de um trabalho de anos à frente de uma Prefeitura.
Mas falta uma grande obra entre nós. Falta uma marca. A rede no mar virou um símbolo ultrapassado e com dezenas de frentes de obras notoriamente eleitoreiras, percebemos que algo já devia ser feito há mais tempo. Falta um brilho, ousadia e visão de futuro. Uma rótula na Junção não consegue dar o sentido de sua utilidade. Quem pesquisou o fluxo diário de pessoas? Quantos ônibus circulam no horário de pique? Qual a relação de circulação com a possibilidade de rotas alternativas com a zona oeste? Não sabemos nada das avaliações propostas.
È uma obra pública e o cumprimento ordenado das etapas de elaboração  leva à obtenção de um conjunto de informações precisas que refletirão em menor risco de prejuízos à Administração e o bem estar da população.
Há obras paradas, Secretarias incapazes de obras mais elaboradas, mas que num passo de mágica, tornam-se sonhos de consumo para o encanto de muitos. Falta a grande obra porque sempre nos encolhemos em projetar a cidade do futuro, amaciados em um passado presente de poucas perspectivas. O que sabemos da Obra da Praça Tamandaré? Ali vai ser para sempre o terminal de toda frota urbana do município? Pela representação histórica da velha Geribanda ainda nos anos dos 1800, será que foi feito algum detalhamento arqueológico para as obras? As relações estabelecidas quanto à paisagem urbana central não podem ser vistos da ótica do tráfego automotivo e é esse reducionismo que preocupa. As transformações estéticas e urbanísticas advêm da necessidade não só do crescimento urbano e populacional, mas compor afinidades entre o uso público, paisagismo e o patrimônio arquitotônico de um centro antigo e histórico. Mas ainda não pensamos assim. Retardamos nossa concepção de modernidade para, como uma praga, nos apropriarmos da gestão pública como se fosse algo privado. Remodelar em partes a arquitetura da cidade em nuvens densa de certo apressamento implica em obras de qualidade duvidosa que o tempo vai cobrar. Uma praça e seus encantos não devem ser espoliados de renovações, mas precisamos devolver aos moradores da cidade uma arquitetura envolvente, espetáculo de um orgulho do tempo distante.

De norte a sul. Do Estado ao município.  Ano de eleição é ano de obras. Mas não se pode errar tanto nem subestimar o eleitorado.  A cartilha do TCU esta disponível em  www.tcu.gov.br/portal/pls/portal/docs/2058946.PDF.  È só clicar.

As tendas do Povo Novo


Os antigos caminhos e estradas para o sul do Rio Grande foram abertos a partir dos anos de 1720 definindo traçados da circulação e o comércio das mulas e, com o gado veio a experiência da integração ainda no século 18 como uma atividade que consolidou o comércio e o nascedouro da vocação da economia rio-grandense até os tempos atuais e a formação de uma identidade histórica. No comércio de cavalgaduras, expedições militares ou nos passos dos viajantes ainda no século 19 desenharam rumos que a modernidade esqueceu e surgiram outros caminhos rústicos e naturais, mas viria o saibro e o asfalto na demanda dos novos meios de transportes à gasolina e a diesel. A estrada Rio Grande a Pelotas terminou de ser asfaltada somente na década de 50 e quem disse que lá não estavam as primeiras “bancas” no Povo Novo.
A velha estrada não tinha acostamento e um movimento fraco, a não ser nos fins de semana e, lembra Gilnei Martins, as mudas de jasmim, ficavam na beira do asfalto e não viravam com o trânsito da época. Os caminhões a gasolina como o Ford F 600 e o Chevrolet Brasil dos anos 60 cortavam o movimento diário da estrada. Mudavam o perfil  quando outros tipos de movimento, quando, por exemplo,  começava o corte de arroz no Taim e Santa Vitoria do Palmar que ainda era manual, centenas de carroças, carroções e trabalhadores rumavam para a colheita à foice do arroz e nos trabalhos das trilhadeiras. Hoje com a colheita mecanizada e o movimento para o Porto compõe outra dinâmica, além do intensivo movimento em direção à praia do Cassino, mas segundo os proprietários mais antigos, se vendia muito mais do que hoje.
 Não se comercializa mais galinhas, marrecos, gansos como antigamente, mas continua a tradição dos frutos da época colhidos na região como o araçá, butiás e pitangas que “os guris vendiam na beira da estrada.” Nedy Machado Borges vende desde este tempo, mas fixo na beira da estrada está a 30 anos comprando produtos da localidade e com uma lista de produtores que chega a 100. Na alta temporada, a cebola, alho, abóboras de pescoço, moranga e melancia são os produtos mais procurados pelos visitantes e turistas. Também concorda que o movimento aumentou na estrada, mas menos turistas ou caminhoneiros param para levarem os produtos locais.
A importância das ‘bancas’ vai além do que os  turistas e compradores possam imaginar. È uma rede de abastecimento dos produtos locais que depende  exclusivamente das vendas nas bancas, oriundos  basicamente das pequenas propriedades do entorno distrital. A agricultura familiar se desenvolve e se sustenta, em muitos casos, graças ao comércio estabelecido à beira da estrada.
A duplicação da estrada tem lá seus contra tempos, mas problemático mesmo é a insistência dos órgãos responsáveis em negar  o espaço público na comercialização dos produtos. Ainda é cedo, mas necessário se faz  a conscientização e o entendimento social produtivo desse patrimônio à beira da estrada.  

Participaram;Gilnei Martins, Agricultor e morador do Povo Novo e     Cledenir Vergara Mendonça

E.C Santo Antonio - Povo Novo



            Quando em agosto de 1960, Juvenal de Souza Freitas Filho, Eloy Rocha Beira e Feliciano Gomes Filho nem imaginavam os caminhos que seguiria o clube que estavam organizando. Naquele tempo era o E.C Esperança  a referência tradicional de uma agremiação de futebol no interior ou dos famosos bailes concorridos de uma outrora elite rural na qual encontrava no clube seu espaço de lazer e divertimento.
            A base do time e dos fundadores do E.C Santo Antonio em 1960, veio dos trabalhadores do antigo curtume “Santo Antonio” de Paulo Coutelle, com aproximadamente 50 funcionários mais os menores do estaqueamento do couro e lá nascia a gênese do nome e do distintivo do clube, um couro estampado na camiseta e na bandeira. Uma homenagem ao curtume reconhecido aquele tempo como uma das empresas de melhor qualidade de preparo e curtição de couros no sul do estado.
            Se por um lado o Santo Antonio recebeu apoio do Curtume, (os funcionários depois do expediente, faziam mais duas horas na limpeza do campo) não se pode esquecer as influências e origens no time E.C Flor do Povo, que não tinha uma organização plena , e neste sentido reconstruíram a base do futebol com a mescla de jogadores funcionários do antigo Curtume e de jogadores do Flor do Povo. As reuniões iniciais e até mesmo o arrendamento do Salão do Flor do Povo, depois Sociedade Lagemann, para festas e bailes do Santo Antonio entre 1962 a 1972. Uma pequena sede de madeira foi construída em 1968  no local atual  e o prédio em alvenaria foi inaugurado em março de 1972.
            O antigo campo de Nossa Senhora, cercado de matos e tuneiras, pertencia a Igreja de Nossa Senhora das Necessidades do Povo Novo e foi emprestado ao clube e mais tarde foi doado pela Diocese de Rio Grande e o clube ‘vermelho e branco’ começava assim a trajetória social e futebolística no distrito do Povo Novo.
            Foi 8 vezes campeão da cidade, 14 vezes campeão do Interior e nas décadas de 90 em diante virou uma marca registrada de sucesso. Ainda faz jantares dançantes e bingos semanais. Virou encanto e paixão de muitos torcedores. Antonio Mendes Castanheira Filho é um deles. São 48 anos dedicados ao clube. De Presidente por várias vezes a porteiro, só não foi um bom lateral direito na década de 60, brinca ele com seu jeito manso de falar. Nem lembra um fato importante no Clube. Pensa, reflete sobre o tempo passado e em suas memórias uma eterna ligação com o clube. Nem a derrubada dos matos para a construção do campo, nem os tijolos e a massa nos verões quando construía aos poucos a sede social. Fez somente uma referência de uma excursão a Novo Hamburgo a mais ou menos 30 anos passados para jogar contra o Estância Velha, campeão da região, com 2 ônibus e o Santo Antonio ganhou o jogo aos 40 minutos do 2º tempo. Mas isso foi  um fato e o clube é uma paixão acima dos fatos. È uma relação de família, uma grande família. A atual Presidente é a sua esposa, Maria Marlene Borges Castanheira desde 2008. Os caminhos e o caráter de um clube passam pela harmonia e conduta da       ( ver o apelido ).

            Hoje o clube está em atividades no Campeonato da Campanha, com 1º e 2º quadros, o Dep. De Veteranos, participa do campeonato de Futebol no Cassino e no citadino de Futebol de Salão.

Artigo publicado na Revista Memória sociocultural e  histórica do Povo Novo. fev/ 2012 - Ponto de Cultura Artestação